A dança na pandemia
Gostaria de deixar um testemunho de como tenho vivido a pandemia e os trabalhos criativos.
Em março de 2020 quando tudo se fechou de repente aqui em São Paulo, o meu corpo se fechou junto tornando-se inerte. O estado inerte do meu corpo não refletia o estado mental de preocupações e instabilidades que fervilhavam. Como em alguns estágios da prática da meditação, o corpo aparentemente imóvel, porém a cabeça pegando fogo, cheio de pensamentos e emoções que o atravessam.
Aliás é a prática da meditação com a Sangha Zen-Budista da qual faço parte e o fortalecimento de amizades, a forma que me mantém mente-corpo em estado saudável, em meio às graves turbulências da crise brasileira. Sendo atravessado, deixando passar, percebendo o movimento da mente.
Realizei dentro de casa em 2020 com a câmera do meu celular alguns experimentos de dança. Foi a forma que encontrei para sentir o meu corpo, sair da inércia e "pensar" que ainda danço... Um dos vídeos foi editado pela Fundação Japão e fez parte de uma ação solidária de como ficar bem em casa em 2020.
Aqui o link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=l4yzXE647mA&list=PLrff6izPqvMHP4OwWqnz28QS6kVpYaX06&index=1&t=1s(link is external)
Aqui o link de uma edição feita para as gravações que fiz em casa com meu celular.
Ainda no mês de dezembro de 2020 consegui finalizar um projeto, com subsídios do Estado, que ficou "paralisado" nesta pandemia. Foi um pequeno momento de certa abertura e queda de contágio pelo corona vírus. Pudemos entrar no teatro, com todos os protocolos sanitários vigentes, durante uma semana, preparando e montando para as câmeras, a fim de realizar o espetáculo "Aka". De fato mesmo, dos cinco dias de montagem foi com apenas dois dias que conseguimos gravar minha dança. Foi uma produção inimaginável hoje.
Aka, significa vermelho em japonês e é um solo inspirado na vida e na obra da renomada artista plástica nipo-brasileira Tomie Ohtake. Aka tornou-se um cine-espetáculo lançado on-line, entre janeiro e fevereiro de 2021, o que resultou em um alcance maior de público. Foi um pequeno alento de momento na realização de um projeto antigo, gestado por um longo tempo.
Aqui um trecho de Aka: https://vimeo.com/512331417(link is external)
Estamos longe de uma abertura presencial para os artistas. Enquanto isso, muitas situações virtuais tomam conta da cena e que mostram nossa resistência, nossa existência e a criatividade que não cessou na pandemia, apesar de tudo. E as minhas práticas meditativas que me ensinam a impermanência. O não-eu. O coexistir, interligando tudo e todos.